Talvez o nome José Maria Nunes Corrêa não seja tão familiar para você, mas, com certeza, você conhece Zezinho Corrêa. Esse nome é, e sempre será, referência amazonense, e ficará gravado na história do nosso Norte. Com sua humildade e simpatia, ele levou o Amazonas para o mundo e deixou seu legado no cenário artístico, exaltando nossa cultura e nosso ritmo, juntamente com a banda Carrapicho.
Nascido em 21 de maio de 1951 em Carauari, pequeno município do Amazonas, Zezinho Corrêa se tornaria grande com sua arte, sua performance e seu talento.
– O primeiro sonho
Ser cantor não era a primeira opção de Zezinho Corrêa. Na verdade, seu sonho era ser ator; tanto é, que ele foi morar no Rio de Janeiro para fazer curso de teatro na Federação das Escolas Federais Isoladas do Estado do Rio de Janeiro (FEFIERJ). Foi nessa época, estudando teatro, que Zezinho Corrêa começou a cantar. Antes de ser do grupo Carrapicho, ele participou de várias peças e musicais. Uma das provas de seu talento teatral é que, em 1975, Zezinho foi premiado como ator ao participar do elenco de uma peça chamada “Transe”, no festival criado pelo Serviço Social do Comércio (Sesc). Nessa época, ele foi chamado para fazer parte do teatro experimental do Sesc, onde deu início à banda Carrapicho ao lado do músico Roberto Bezerra, em 1980.
– Vergonha de Cantar
Em entrevista ao The Noite com Danilo Gentili (2018), Zezinho Corrêa contou que tinha vergonha de cantar, porém, a aula de canto fazia parte da grade curricular do curso de teatro. No teste de classificação vocal, Zezinho queria ficar sozinho na sala com a professora, porque ele fazia parte de uma turma de trinta alunos. “Havia uma fila enorme para o teste e, sempre que chegava perto da minha vez, eu saía e ia pra trás. Eu fui o último, e ficou somente eu e a professora na sala.” Na sua vez de fazer o teste, Zezinho começou a cantar a música “Travessia”, de Milton Nascimento. A professora, por sua vez, pedia para que ele cantasse com mais emoção e, sem perceber, Zezinho relatou que havia soltado a voz e viajado na canção, se deixando levar pelo sentimento.
Ele imaginava que, por ter um timbre mais agudo, não tivesse potencial para cantar.
Na entrevista, ele também afirmou que guardava consigo as palavras ditas pela professora no dia do teste: “Nós vamos trabalhar a sua voz. Você tem um timbre raro! Vamos trabalhar para que você possa explorar o timbre que tem. Cante em todos os lugares que você puder: no banheiro; quando for dormir; se você estiver dentro de um transporte, cante no transporte; cante no ônibus, em qualquer lugar.” Foi esse incentivo da professora que fez Zezinho ganhar paixão pelo canto.
– Fé e Sucesso
Em uma época difícil, enquanto vivia no Rio, Zezinho ia à Gruta de Nossa Senhora de Lourdes, em Copacabana, para se concentrar, refletir e pedir à santa para que seus estudos e todo esforço não fossem em vão. Ao chegar na França com a Banda Carrapicho, descobriu que Nossa Senhora de Lourdes é uma das santas mais cultuadas no país. Ele afirma que foi ela quem o guiou para chegar até lá.
Mas como Zezinho e a banda Carrapicho conseguiram ir tão longe?
– Do Amazonas para o mundo
Zezinho Corrêa, que já fazia parte da banda Carrapicho, ouviu o compositor Braulino Lima cantando a música “Tic Tic Tac” em um canal de TV. Ficou imediatamente encantado e com desejo de regravar a música. Essa canção já havia sido selecionada para as toadas do Garantido em 1993, mas não fez sucesso na época. A música foi, inclusive, criticada pelo refrão “tic tic tac”, sendo apelidada de “música do relógio”.
Dois anos após ter ouvido a música na TV, Zezinho Corrêa regravou a Toada no CD “Festa de Boi-Bumbá”, da banda Carrapicho, inserindo um novo arranjo e uma nova interpretação, que fizeram a música ganhar ainda mais vida. Foi quando Patrick Bruel, produtor francês que estava em Itacoatiara, ouviu a canção tocar na rádio, se encantou com o ritmo da toada e levou o grupo para se apresentar na França, colocando a banda Carrapicho no cenário da música internacional.
– Interpretando Roberto Carlos
Em 2016 Zezinho Corrêa fez uma apresentação no Teatro Amazonas cantando várias músicas que fizeram sucesso na voz de Roberto Carlos, entre elas: “Quero que tudo vá pro inferno”, “Detalhes”, “Emoções” e “Cavalgada”. Ele colocou toda a sua identidade na interpretação de cada canção e se dedicou durante 3 anos no planejamento desse projeto.
E, apesar de sempre associarmos a voz de Zezinho a toadas e músicas regionais, ele afirmou, certa vez, que gostava de cantar vários ritmos.
Ano passado, em dezembro de 2020, a história desse grande ícone amazonense foi eternizada pelo jornalista e amigo pessoal Fabrício Nunes, que escreveu a biografia de Zezinho Corrêa no livro que tem como título “Eu quero Tic Tic Tac”.
Zezinho, pouco antes de ser internado, pôde ter em suas mãos a obra que homenageia sua trajetória. O livro aborda todas as fases da vida do artista, antes e depois da fama.
No dia 6 de fevereiro deste ano, Zezinho Corrêa faleceu vítima da Covid-19, uma perda triste e precoce, já que o cantor tinha 69 anos e esbanjava vida e energia. Porém seu legado jamais será esquecido, pois está guardado nas memórias das páginas de sua biografia.
Preparamos uma playlist no Spotify com as músicas mais conhecidas que fizeram parte da carreira de Zezinho Corrêa. São vários sucessos para você relembrar, dançar e bater forte o tambor. Clique aqui para ir ao nosso link no Spotify.